Alqueva 2010

Face ao sucesso da viagem ao Alqueva no ano anterior, e devido ao facto de nem todos os associados terem conseguido participar, o Centro de Dia de Marmelete decidiu repetir este passeio, dando prioridade aos associados que o ano passado não tinham participado.

Assim, no dia 25 de Julho de 2010 pelas 7 horas da manhã, rumou-se em direcção ao Alqueva. Foi uma viagem tranquila e apenas com uma paragem pelo caminho no café Coimbra em Ourique.

Por volta das 11 horas chegámos à barragem e o grupo dividiu-se em dois, e enquanto uns andavam de barco pela barragem, os outros visitavam o Centro de Documentação da Barragem do Alqueva, onde tomou-se conhecimento de todo o processo de construção do maior lago artificial da Europa. Depois, quando o grupo que já tinha andado de barco visitou o Centro de Documentação, e foi a vez do outro foi passear de barco. Apesar dos receios de alguns, em entrar no barco, a viagem de barco foi muito agradável e tranquila e todos puderam desfrutar da bela paisagem alentejana que rodeia a barragem. Durante a viagem fluvial, teve-se direito uma pausa para café e bolos, surpresa prepara com gentileza pela equipa da Aquaspace.

O almoço decorreu tranquilamente no restaurante "O Celeiro", na cidade de Moura, onde se deliciaram com a maravilhosa gastronomia alentejana.

Em seguida visitou-se o Museu de Arte Sacra na Igreja-Colegiada de S. Pedro em Moura, onde se desfrutou das artísticas pinturas a óleo e das minuciosas peças de escultura. Para terminar a incursão pela cidade de Moura recuou-se no tempo e fez-se uma visita guiada pelo Lagar de Varas do Fojo, onde se conheceu todo o processo artesanal da produção de azeite da Cidade de Moura, este lagar esteve activo durante 100 anos, mais precisamente de 1841 a 1941.

Iniciou-se a viagem de regresso a Marmelete, por volta das 18 horas, e parámos no caminho para comer um gelado ou beber qualquer coisa, para combater o intenso calor que se fazia sentir.

Terminámos este artigo com uma palavra de agradecimento ao Sr. Humberto Nixon e a toda a equipa da Aquaspace pelo bons momentos proporcionados neste dia. Muito Obrigado!

"A cabra cabrês e a formiga rabiga"



O Centro de Dia de Marmelete comemorou uma data muito especial, o Dia Mundial da Criança.


Desta forma, a instituição decidiu promover mais um encontro intergeracional e convidou as crianças do Jardim Infantil de Marmelete, para a festa.

A preparação da festa começou semanas antes, pois parte da actividade consistia em fazer um teatro de fantoches com a história da "Cabra Cabrês", então foi necessário construir as personagens que participavam na história e o cenário, e fazer os ensaios da peça. A preparação foi muito divertida especialmente nos ensaios, que tiveram sempre bastante risota à mistura com a imitação de sons dos animais.

Apesar de algum nervosismo, os utentes que representaram a peça, foram verdadeiras artistas, arrancando bastantes risos das crianças. Depois do teatrinho os utentes decidiram ensinar dois jogos tradicionais às crianças, o jogo do Senhor Barqueiro e do Peixinho, neste último apesar de muita correria, conseguiu-se pescar todos os peixinhos.

No final, como era necessário repor as energias, deu-se inicio ao lanche, e assim todos se deliciaram com diferentes bolos e sumos. As crianças como agradecimento ao convite feito pelo Centro de Dia de Marmelete brindaram os presentes com um bolo de pudim feito pelas mesmas e com divertidas canções.

Houve bastante convívio entre as crianças e os utentes da instituição, elas conseguiram contagiar-nos com a sua energia e divertiram-se muito, os idosos puderam ainda recordar os seus tempos e brincadeiras de criança.

Resta-nos deixar aqui um agradecimento especial à Educadora de Infância Isabel Santos e à Auxiliar Maria de Jesus que acompanharam os meninos e que desde o inicio mostraram-se disponíveis para colaborar com a nossa instituição. Muito Obrigado!


Futura Obra inicia em 2011

Foi no passado dia 24 de Junho que a Direcção do Centro de Dia de Marmelete, representado por José Pinheiro Duarte, Orlando Duarte e Aldina Cruz, se dirigiu ao Governo Civil de Faro e numa sessão solene presidida pela Governadora Civil de Faro, Dr.ª Isilda Gomes, pelo Secretário de Estado da Segurança Social, Dr. Pedro Marques, e pelo Dr. Rui André, Presidente do Município de Monchique onde se assinou o protocolo de construção do Lar de Idosos D. Maria da Costa Melo Catalão, obra que o Centro de Dia de Marmelete esperava concretizar há muito tempo. Como é de conhecimento público, o Centro de Dia estava em processo de candidatura desde 2009, e só este ano é que ficou aprovado pelas devidas entidades competentes. As obras de construção do Lar de Idosos iniciarão em 2010, tendo o Centro de Dia o prazo de 2 anos para a sua construção e 1 ano para equipamento. Juntamente com o Centro de Dia de Marmelete, esteve presente a Casa do Povo do Alferce que se candidatou à construção de um Centro de Dia e Serviço de Apoio Domiciliário. O programa ao qual o Centro de Dia de Marmelete se candidatou corresponde ao POPH—Programa Operacional Potencial Humano, o qual tem uma comparticipação pública de 60% e privada de 40% assegurados pela Câmara Municipal de Monchique. Com a construção do Lar de Idosos D. Maria da Costa Melo Catalão, espera-se aumentar a fraca rede de respostas sociais que o concelho de Monchique tem, visando prestar um apoio à população idosa mais objectivo e eficaz. Nas instalações do Centro de Dia, encontram-se imagens da futura obra que teremos todo o gosto em mostrar aos nossos associados.

Santos Populares no Centro de Dia





Como já vem sendo hábito, o Centro de Dia de Marmelete interessado em promover a cultura popular, desenvolveu mais uma iniciativa nesta área. Assim, no dia 4 de Julho a instituição promoveu o Arraial Popular para os seus associados na Casa do Povo de Marmelete, afim de comemorar os Santos Populares.

Semanas antes contou-se com a colaboração dos associados na decoração a rigor do Salão da Casa do Povo de Marmelete. Pelas 15 horas começaram a chegar os primeiros associados…

Entre vários petiscos, a sardinha assada sobre o pão foi a rainha da festa, sendo bastante apreciada pelos mais de 100 associados presentes na festa, foi ainda acompanhada por vinho tinto, salada algarvia, sumos e frescas sobremesas.

A animação musical esteve a cargo da artista Ana Lúcia, natural da freguesia de Monchique, a qual fez com que quase todos dessem um pezinho de dança.

Este arraial fica também marcado pelo anúncio público e oficial do Presidente de Direcção do Centro de Dia de Marmelete, Drº Eleutério Torrado, da aprovação de construção do Lar de Idosos “D. Maria da Costa Melo Catalão”, obra que iniciará brevemente, com a candidatura no POPH - Tipologia 8.6.12 Apoio ao Investimento em Respostas Integradas de Apoio Social .

A festa terminou pelas 22 horas, com alegria e muito cansaço devido ao bailarico. Foi uma tarde bastante animada. Fica aqui um agradecimento muito especial a todos os associados que contribuíram na organização e decoração da festa, aos que ofereceram bens alimentares, aos assaram as sardinhas, aos ajudaram na distribuição das comidas e bebidas durante a festa e ainda aos que ajudaram na limpeza do salão.

Uma ajuda muito nobre que o Centro de Dia vem assim louvar! Muito Obrigado...




Visita ao Jardim Zoológico



No passado dia 30 de Maio, o Centro de Dia de Marmelete realizou uma visita ao Jardim Zoológico de Lisboa com os seus associados.
Partiu-se de Marmelete às 8 horas da manhã e depois de algumas paragens, chegou-se ao Jardim Zoológico de Lisboa por volta do meio dia. À chegada todos desfrutaram de um belo piquenique no agradável parque de merendas do Jardim. Após a refeição, deu-se então inicio à visita pelo parque, onde todos apreciaram vários exemplares de diferentes espécies de animais selvagens que habitam no Jardim. Durante o passeio pode-se ainda assistir a diferentes espectáculos de animais, nomeadamente à alimentação dos leões marinhos, das girafas e dos elefantes. Na Baía dos Golfinhos toda a assistência ficou maravilhada com as acrobacias daqueles animais e a simpatia característica dos mesmos, houve ainda quem tivesse direito a um molhado e repenicado beijinho dos leões marinhos. No final da tarde todos os participantes estavam bastante satisfeitos e divertidos, e apesar do calor que se fez sentir e do cansaço notório, chegou-se muito contentes a Marmelete.


"Cá vamos inde..."



Tendo em vista a promoção da cultura popular, o Centro de Dia de Marmelete este ano decidiu brindar os seus associados nas idas ao teatro. O teatro é uma das formas de arte mais autênticas e a partir da qual se pode contar uma história real ou fictícia.

Apesar, de muitas vezes não lhe ser dado o devido valor, o teatro é muito importante é fundamental na formação cultural de qualquer pessoa. Esta arte faz-nos também conhecer um pouco da nossa cultura, despertando o desejo pelo conhecimento e proporciona-nos momentos de descontracção, divertimento e de contacto com realidades que não conhecemos. O teatro imita a vida.

Desta forma, numa parceria estabelecida com o Grupo de Teatro Experimental da Mexilhoeira Grande e o Clube de Instrução e Recreio Mexilhoeirense, vários utentes da instituição, cerca de 50 associados, foram durante os meses de Abril e Maio assistir a uma revista à portuguesa intitulada "Cá vamos inde".

Uma peça bastante divertida, onde assistiu-se à habitual crítica do actual estado político, económico e social do país, e em particular do Barlavento Algarvio, com muito humor à mistura como é próprio da sátira desta natureza.

Com cenários e guarda-roupa graciosos, resta-nos dar os Parabéns a todos os actores, que apesar de amadores, tiveram uma prestação muito profissional.

Muito Obrigado pela excelente organização!


Alma de Poeta...

Entrudo é tempo de brincar

Porque é Carnaval

Brinquem com jeito

Para ninguém levar a mal

O brincar é prazer

E eu, dá-me alegria

Tenho uma grande consideração

Pelo pessoal do Centro de Dia

A seguir vem a Quaresma

Que é tempo de oração

Vem o Sábado de Aleluia

E o Domingo de Ressurreição

Eu tenho muito respeito

Que me dá que pensar

Quem tem tanto poder

Morrer e Ressuscitar

Aleluia! Aleluia!

É canto de alegria

Ressuscitou Jesus

Que é o filho de Maria

MANUEL DA SILVA RODRIGUES

Alma de poeta...

Este Centro de Dia

Já tem muito pessoal

No dia catorze fomos

A um bailinho de Carnaval


Ana Páscoa a tocadora

Para as pessoas animar

Foram-se alguns embora

Antes do balho acabar


O tempo estava muito frio

Fazia vento e chovia

Para a terceira idade

Isto é uma alegria


A sala estava enfeitada

Com balões e mascarinhas

Estavam muito bonitas

Tinham brilhantes e estrelinhas


Eulália Justina António

Histórias de Vida - José Francisco Duarte



O Sr. José Duarte tinha 12 anos quando começou a trabalhar com o seu pai no campo e foi sempre o que fez durante toda a sua vida.
Foi quinteiro durante muitos anos do Sr. Afonso Torrinha. Um quinteiro toma conta da terra do patrão. O seu patrão dava-lhe a terra para semear, ele semeava toda a terra e na altura da recolha dividiam tudo ao meio, metade era para o Sr. José Duarte e a outra metade era para o seu patrão, e tudo o que sobrava vendiam e o lucro também era dividido ao meio. Para além disso também tratava do gado que eram vendido e o lucro era dividido ao meio.
O seu ordenado era aquilo que sobrava da colheita, que vendia, ficava com o lucro para si.
Sempre trabalhou por conta própria, apesar de nunca ser no seu terreno.
O Sr. José Duarte chegou ainda a ser leiteiro, tinha 4 vacas leiteiras e começou a vender leite quando veio morar para Marmelete. Não ai vender o leite casa a casa, as pessoas é que iam à sua casa buscar o leite. Tinha tanto trabalho que o seu patrão viu-se obrigado a comprar uma máquina para ordenhar as vacas, porque já não conseguiam fazer duas ordenhas por dia, o Sr. José ordenhava cerca de 40 a 50 litros de leite por dia, nas ordenhas da manhã e da noite.
Recorda-se que muitas das vezes o leite não chegava para as encomendas, pois naquela altura só existiam duas pessoas em Marmelete que vendiam leite. O Sr. José Duarte vendia um litro de leite a 100 escudos.
Era uma vida muito dura, levantava-se de madrugada e trabalhava até ao anoitecer, nunca chegou a ter folgas e sempre foi um escravo no trabalho. Refere que não era um trabalho muito rentável, mas sempre conseguiu pagar as despesas e ir comendo.
Nunca teve aprendizes consigo para lhes transmitir a arte do seu ofício, sempre trabalhou sozinho e a sua mulher, os dois tratavam do gado e faziam a horta. Só teve que pagar pessoas para trabalhar com ele, quando tinham muito trabalho, por exemplo na apanha das sementeiras acrescentadas de cebolas, batatas, feijão.
O serviço que mais gostava de fazer era tratar dos animais, e acha que ainda devem existir algumas pessoas a trabalhar como quinteiros.
Nos seus tempos livres o Sr. José Duarte descansa pois segundo ele: “(...)A doença assim o exige. (...) Apesar de tudo, diz que já teve momentos mais felizes mas não se pode queixar da sua vida.
Obrigado, Sr. José Duarte!

Histórias de Vida - José da Silva Conceição


O Sr. José sempre foi minador, embora também tivesse trabalhado como pedreiro durante dois anos em Alemanha, partiu pedras numa pedreira e depois de reformado ainda foi vigilante florestal numa torre de vigia na serra da Fóia. Mas a maior parte do tempo, durante toda a sua vida trabalhou como minador.
Um minador faz poços e minas, para fazer uma mina primeiro escava-se um buraco na terra, com uma largura de mais ou menos 80cm e 1, 80m, escava-se até conseguir captar água. Mas tem que se ir entaipando o terreno para se conseguir trabalhar e não cair terra em cima dos trabalhadores, uma espécie de um tecto de madeira, e se encontra água suficiente pára-se de escavar. Os poços têm que ser sempre construídos num terreno plano, enquanto que as minas têm que ser numa encosta, ou no meio de um monte. Para se construir um poço, primeiro tem que se marcar o lugar e depois vai-se escavando, cercando com madeira e depois empedrando com tijolo. O Sr. José costumava a usar uma régua para que a parede ficasse sempre direita e com o mesmo diâmetro. O processo é sempre o mesmo até se conseguir encontrar água. Quando a água não for muita e se já tivermos escavado bastante, tem-se que fazer uma mina dentro do próprio poço para assim conseguir mais água.
O Centro de Dia de Marmelete atento às declarações do Sr. José e sabendo que se trata de um trabalho bastante duro e perigoso, pergunta-lhe se alguma vez apanhou um susto durante a sua execução, e o Sr. José responde: “(...) Ai não, que não apanhei! Foram tantos! Com água e com terra, uma vez pensei mesmo que morria soterrado, mas graças a Deus ainda cá estou.(...)” Quando queria ter a certeza de que ia encontrar água, chamavam pessoas especialistas em encontrar água, os vedores, e eles diziam quantos metros é que tinham que escavar para encontrar água, mas às vezes também se enganavam. Já o Sr. José devido à experiência que tinha, raramente se enganava, conta-nos por exemplo, que num terreno rochoso não dava para fazer uma mina ou um poço. Para conseguir ver debaixo da terra usava um gasómetro, uma espécie de lanterna que acendiam com umas pedras, tinha uma espécie de carvão que ia ardendo e assim tinham luz para conseguir trabalhar.
O seu oficio aprendeu com o seu pai e com os outros que trabalhavam com ele, e conta-nos em tom de brincadeira que desde os 8 anos que começou a escavar buracos na terra. Trabalhava por conta própria e sempre tive muito trabalho, mal acabava um poço já tinha outro para fazer. No seu dia-a-dia enquanto minador, trabalhava entre 8 a 10 horas diárias começava às 08h00m e terminava às 17h00m, só descansava ao Domingo e férias nunca tive.
Era um trabalho lucrativo e sempre ganhava mais do que aqueles que andavam a trabalhar na terra. Como o pai sempre trabalhou como minador começou a trabalhar com ele, e sempre foi contratado para fazer o seu oficio, e como o trabalho também escasseava ao ser minador sempre ganhava mais.
A arte do seu ofício ensinou alguns daqueles que trabalhavam consigo, mas nunca tive gente nova a aprender, “(...) também quem é que queria andar aí cavando buracos para encontrar água debaixo da terra (...)” diz o Sr. José a rir. Não se recorda de quanto minas fez na sua vida, mas poços acha que foram mais ou menos 22. Diz-nos que um poço com 10m, levava mais ou menos um mês ou um mês e meio a construir e isto se a terra fosse boa de escavar. Desde que se reformou que não trabalha como minador, e que ainda devem existir uns dois ou três minadores, mas qualquer dia deixam mesmo de existir.
Quando o Centro de Dia de Marmelete perguntou-lhe se daqui a 50 anos ainda haverá pessoas a trabalhar como minadores, o Sr. José responde: “(...,) Não, não há, não senhora! Nem precisa de tanto tempo, daqui a uns 6 ou 7 anos já não encontramos pessoas que saibam fazer este trabalho, dos mais novos ninguém quis aprender.” E quando lhe perguntamos se tinha alguma profissão de sonho, respondeu com uma gargalhada: “(...) Ora, gostava de ter sido doutor(...).”
Nos seus tempos livres descansa e trabalha na sua horta e acha-se uma pessoa feliz assim. Obrigado Sr. José da Silva Conceição.

Histórias de Vida - João de Carvalho Franco


O Sr. João Franco começou a trabalhar na horta com o seu pai, e com mais ou menos 20 anos, foi trabalhar como almocreve com o Sr. José Viana, e este foi o seu trabalho até se reformar.
Transportava todo o tipo produtos no seu cavalo, mas normalmente contratavam-no para transportar carvão e cortiça, e deste dois produtos o que mais transportava era cortiça.
Os clientes iam ao seu encontro para que ele fizesse o transporte do material. No tempo em que era almocreve não existiam estradas, só umas veredas, em que só os animais e as pessoas é que conseguiam andar. Antigamente só existia a estrada até aos Casais, por isso tinha que fazer o transporte dos produtos até aos Casais para os camiões e camionetas levarem o material.
Conta-nos que não aprendeu com ninguém, que não era um serviço complicado, a única coisa necessária era a força para conseguir carregar a besta.
O Sr. João Franco trabalhava por conta própria, refere que tinha um dia-a-dia muito duro, levantava-se de madrugada e só terminava à noite, e assim era todos os dias da semana.
Diz-nos que ganhava-se muito pouco, mas dava para ir sobrevivendo, pois o trabalho era muito, e o que ganhava não compensava o trabalho tinha.
Escolher ser almocreve porque precisava de ganhar para pôr comida na mesa, e como existiam falta de almocreves no povo de Marmelete, aproveitou a oportunidade pois como almocreve, sempre ganhava mais do a cavar terra.
Recorda-se como fosse hoje, que uma besta aguentava mais ou menos 8 a 9 arrobas de carga, e era esse peso que levava quase sempre, tentava levar sempre o máximo de cada vez, mas diz-nos que também não podia abusar porque o animal não aguentava e a distância era muita.
Apesar de existirem almocreves que trabalhavam com dois animais ao mesmo tempo, o Sr. João Franco trabalhou sempre só com um. Nunca tive ninguém a trabalhar consigo, por isso não ensinou a arte do seu ofício a ninguém, e preferiu sempre ser almocreve do que trabalhar na agricultura. Hoje em dia já ninguém trabalha como almocreve, pois com a construção de estradas, os carros ajudam muito e as pessoas têm metade do trabalho que tinham naquela altura.
Nos seus tempos livres, o Sr. João Franco descansa e dá as suas voltinhas pela freguesia diz que assim é feliz, e confessa-nos que a sua profissão de sonho era ter sido sapateiro, pois ainda andou a aprender durante algum tempo, mas entretanto o seu mestre morreu, e tive foi que ir trabalhar como almocreve…
Obrigado Sr. João Franco.

Histórias de Vida - Daniel Franco


Sempre trabalhou como carpinteiro desde que nasceu. Fez todo o tipo de trabalhos em madeira, inicialmente começou a trabalhar na oficina do Sr. Lúcio e emigrou para a Alemanha onde trabalhou durante 15 anos como carpinteiro, na tentativa de ganhar mais um pouco para a sua família.
Já na Alemanha, o Sr. Daniel Franco recorda-se das diferenças de Portugal e Alemanha em relação à profissão de carpinteiro. “O trabalho era muito mais, fazíamos coisas muito grandes. Enquanto que aqui, as coisas eram muito pequenas, haviam muitas, muitas diferenças. Lá até tínhamos muito mais máquinas e ferramentas para trabalhar, era completamente diferente.”
Nunca aprendeu a sua profissão com ninguém, desde que se lembra, sempre tive tendência para fazer objectos em madeira, em pequeno fazia os seus próprios brinquedos, carrinhos, cadeirinhas. Sempre gostou muito de trabalhar com a madeira.
Nunca trabalhou por conta própria, em Portugal trabalhou na oficina do Sr. Lúcio e em Alemanha trabalhou numa empresa.
Na altura em que trabalhava a vida era dura, trabalhava de manhã à noite porque tinha muitas encomendas. E diz-nos que: “...custava a dar conta do recado.” pois as encomendas eram desde móveis para casa até às caixas para fruta. Quando trabalhou aqui em Portugal não ganhava muito, quando fui para a Alemanha começou a ganhar mais…
O Sr. Daniel explica que gostava de fazer mesas, mas o que ele mais gostava de trabalhar era na tanoaria, a fazer pipas e barris, embora não fosse bem esse o seu ofício.
Comenta que o castanho é a melhor madeira para trabalhar e também a mais resistente, mas aqui em Portugal o pinho era a madeira que se usava mais, já na Alemanha era o mogno.
Sempre gostou muito de trabalhar a madeira e tive a sorte de conseguir trabalhar naquilo que gostava. Ensinou a sua arte a alguns carpinteiros, como por exemplo ao Sr. José Eduardo e ao Sr. José Pinheiro que aprenderam com ela na oficina do Sr. Lúcio, o seu filho João também aprendeu a sua arte pois sempre gostou de trabalhar com a madeira e escolheu ser carpinteiro como o pai por isso ensinou-lhe o que sabia.
O Sr. Daniel Franco sente-se cansado, e desde que veio da Alemanha que não trabalha. Diz-nos que existem nos dia de hoje bons carpinteiros e que o trabalho é mais facilitado devido à ajuda das máquinas. Quando o Centro de Dia de Marmelete perguntou como é que estará a arte da carpintaria daqui a 50 anos, o Sr. Daniel Franco a sorrir diz-nos: “...Nessa altura já eu não estou cá. Mas acho que sim, acho que vão continuar a haver carpinteiros, mas se calhar não vão trabalhar em pequenas oficinas, vão é trabalhar para grandes empresas…”
Sempre gostou muito de ser carpinteiro, mas se calhar até podia ter sido agricultor. Hoje em dia nos tempos livres descansa e vai ao café para estar com os amigos. Sente-se uma pessoa feliz dentro das possibilidades.
Obrigado pela disponibilidade Sr. Daniel Franco!

Histórias de Vida - Maria Custódia Albino


Autodidacta por natureza, Custódia Albino hoje com 93 anos, foi uma das costureiras mais conceituadas da nossa terra. Com um método muito próprio de trabalhar sempre teve uma ligação especial com a agulha e com a linha, que nunca soube explicar. Modista de inúmeras noivas, toda esta aventura começou quando tinha 11 anos e fez o seu primeiro fato de homem para um dos amigos do seu namorado…
Filha única e costureira de profissão tinha 4 anos quando veio para Marmelete. Adora costurar, e hoje só tenha pena de já não conseguir costurar como noutros tempos. Nunca aprendeu este ofício com ninguém, foi só uma vez para a casa de uma senhora na Pereira para que ela ensinasse a pôr uns chumaços nos casacos, mas passado uma semana voltou outra vez para casa porque D. Custódia já tinha aprendido a técnica. O gosto pela costura nasceu naturalmente, nem a própria sabe explicar... Apenas se recorda que sempre gostou de cortar, talhar e coser… Em miúda desmanchava as roupas lá de casa e depois voltava a coser, só para ver como estavam feitas!
Trabalhou sempre por conta própria, embora muitas vezes isso lhe dificultasse bastante a vida, pois não tinha “mãos a medir” para o trabalho solicitado. Sempre fez todo o género de roupa, homem, mulher, criança. No tempo em que era costureira as pessoas não tinham onde comprar roupa, existiam poucas lojas e as que existiam eram muito caras, e então era com ela que a maioria das pessoas de Marmelete e arredores vinham pedir os arranjos de costura. Normalmente, compravam o tecido escolhiam o modelo de roupa que queriam e muitas vezes chegavam a trazer revistas para D. Custódia copiar o modelo, só restava tirar as medidas ao cliente e depois tinham um bonito traje…
Na altura a profissão era lucrativa e segundo a própria dava sem dúvida para sobreviver. Hoje em dia já encontramos tantos modelos de roupa à venda e tão barata que ninguém vem procurar uma costureira para fazer roupa. Ponto mais alto da sua profissão chegou muitas vezes a acordar às 6 da manhã, deitando-se à 1 ou 2 da manhã e o descanso semanal não existiam porque com tanto trabalho era completamente impossível.
Fez muitos vestidos de noiva e fatos de noivo, e até chegou a fazer alguns trajes para o Rancho Folclórico de Monchique. D. Custódia, fica com um ar triste quando pensa que nos dias de hoje as costureiras fazem apenas umas simples bainhas, colocam fechos e pouco mais…
Ainda hoje costura, mas já nada se compara ao que fazia, neste momento tem três pares de calças para fazer umas bainhas, mas diz que “...Já não é capaz para isto, já estou cansada! Eu bem queria mas não consigo…”
Teve algumas aprendizes, quis ensinar a outras pessoas essa arte. E teve o cuidado de tentar passar a sua arte de geração em geração. Muitas raparigas de Marmelete aprenderam com ela, vinham pedi-lhe que as ensinasse e ela sempre aceitou, prova disso é que chegou a ter 5 e 6 raparigas ao mesmo tempo a aprender, e acha que num total deve ter ensinado a arte da costura a umas 20 ou 30.
D. Custódia vê com maus olhos o futuro da profissão de costureira, e acha que daqui a uns 50 anos já não devem existir costureiras, porque hoje em dia as que restam já têm pouco trabalho. Hoje em dia, D. Custódia acha que tem tempo livre demais, e confessa “...quem me dera não ter tanto tempo livre... Mas vou à ginástica todas as semanas, vou ao Centro de Dia, faço as minha compras e depois ainda faço algumas coisinhas por aí, na minha máquina, quem me dera poder fazer mais...”
Nasceu já costureira e não gostava de ter sido outra coisa, e quando lhe perguntamos se se considerava uma pessoa feliz, respondeu generosamente: “... Sim, não me posso queixar!”
Obrigado, D. Custódia Albino. Temos saudades suas!

Histórias de Vida - Maria Cândida da Luz


Sempre trabalhou em casa, e nunca trabalhou por fora. Quando o pai faleceu começou inicialmente a sua vida profissional na venda que o seu irmão decidiu abrir, só que entretanto quando o irmão teve que ir à tropa, ela e a sua mãe ficaram responsáveis pela venda. Depois, aquando foi feita uma estrada, a sua casa foi destruída e a sua mãe decidiu comprar a actual casa onde vive. Foi ai que abriu um novo um café e uma pequena mercearia, D. Maria Cândida recorda que naquela época já se chamava mesmo café e mercearia. Entretanto casou, e sempre continuou com a mercearia e o café, juntamente com o marido.
O seu trabalho consistia em atendimento ao balcão, vendia-se um pouco de tudo. E D. Maria Cândida diz-nos que a sua casa era a única que tinha máquina de café, candeeiro, frigorífico e fogão, tudo funcionava a gás. A electricidade só chegou ao seu estabelecimento em Agosto de 1976.
O seu café estava aberto das 08h00 às 24h00. D. Maria Cândida recorda que a sua casa nunca podemos tinha hora certa para fechar, daí que ela tinha descanso semanal porque era obrigada ater por lei, mas nunca cumpria.
D. Maria Cândida sempre gostou muito de trabalhar no café e na sua mercearia, pois gostava muito de atender as pessoas. Com o passar do tempo foi aprendendo o seu ofício, trabalhou sempre por conta própria, e segundo a própria tinha que fazer alguma coisa para ganhar a vida e sobreviver.
Há dois anos que deixou de ter o seu negócio, o que lhe custou muito uma vez que sempre gostou de conviver com as pessoas. Com o passar do anos, D. Maria Cândida acredita que daqui a 50 anos já não existirão cafés e mercearias na Freguesia de Marmelete, pois a tendência é para acabar com os negócios
Quando o Centro de Dia de Marmelete lhe perguntou qual teria sido a sua profissão de sonho, D. Maria Cândida humildemente respondeu que nunca fui uma pessoa com grandes ambições, sempre se sentiu bem com o que fazia, daí, nunca sonhou com outra profissão.
D. Maria Cândida actualmente nos seus tempos livres, costuma ler, faz croché e conversa com as suas amigas, e diz que tem tido uma vida feliz.
Obrigado D. Maria Cândida!

Acerca de mim

A minha foto
Monchique, Marmelete, Portugal
Potenciando a efectivação de um acompanhamento do envelhecimento construtivo e activo, o Centro de Dia de Marmelete, consiste numa resposta social de apoio à população idosa da freguesia de Marmelete, incidindo a sua dinâmica institucional para colmatar as demais necessidades e/ou problemas de cariz sócio-demográfico. O Centro de Dia de Marmelete comporta as valências de Serviço de Apoio Domiciliário e Centro de Convívio. Conta com o apoio de 170 associados, entre os quais 16 encontram-se inseridos no Serviço de Apoio Domiciliário e 40 no Centro de Convívio.

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