Histórias de Vida - Maria Custódia Albino


Autodidacta por natureza, Custódia Albino hoje com 93 anos, foi uma das costureiras mais conceituadas da nossa terra. Com um método muito próprio de trabalhar sempre teve uma ligação especial com a agulha e com a linha, que nunca soube explicar. Modista de inúmeras noivas, toda esta aventura começou quando tinha 11 anos e fez o seu primeiro fato de homem para um dos amigos do seu namorado…
Filha única e costureira de profissão tinha 4 anos quando veio para Marmelete. Adora costurar, e hoje só tenha pena de já não conseguir costurar como noutros tempos. Nunca aprendeu este ofício com ninguém, foi só uma vez para a casa de uma senhora na Pereira para que ela ensinasse a pôr uns chumaços nos casacos, mas passado uma semana voltou outra vez para casa porque D. Custódia já tinha aprendido a técnica. O gosto pela costura nasceu naturalmente, nem a própria sabe explicar... Apenas se recorda que sempre gostou de cortar, talhar e coser… Em miúda desmanchava as roupas lá de casa e depois voltava a coser, só para ver como estavam feitas!
Trabalhou sempre por conta própria, embora muitas vezes isso lhe dificultasse bastante a vida, pois não tinha “mãos a medir” para o trabalho solicitado. Sempre fez todo o género de roupa, homem, mulher, criança. No tempo em que era costureira as pessoas não tinham onde comprar roupa, existiam poucas lojas e as que existiam eram muito caras, e então era com ela que a maioria das pessoas de Marmelete e arredores vinham pedir os arranjos de costura. Normalmente, compravam o tecido escolhiam o modelo de roupa que queriam e muitas vezes chegavam a trazer revistas para D. Custódia copiar o modelo, só restava tirar as medidas ao cliente e depois tinham um bonito traje…
Na altura a profissão era lucrativa e segundo a própria dava sem dúvida para sobreviver. Hoje em dia já encontramos tantos modelos de roupa à venda e tão barata que ninguém vem procurar uma costureira para fazer roupa. Ponto mais alto da sua profissão chegou muitas vezes a acordar às 6 da manhã, deitando-se à 1 ou 2 da manhã e o descanso semanal não existiam porque com tanto trabalho era completamente impossível.
Fez muitos vestidos de noiva e fatos de noivo, e até chegou a fazer alguns trajes para o Rancho Folclórico de Monchique. D. Custódia, fica com um ar triste quando pensa que nos dias de hoje as costureiras fazem apenas umas simples bainhas, colocam fechos e pouco mais…
Ainda hoje costura, mas já nada se compara ao que fazia, neste momento tem três pares de calças para fazer umas bainhas, mas diz que “...Já não é capaz para isto, já estou cansada! Eu bem queria mas não consigo…”
Teve algumas aprendizes, quis ensinar a outras pessoas essa arte. E teve o cuidado de tentar passar a sua arte de geração em geração. Muitas raparigas de Marmelete aprenderam com ela, vinham pedi-lhe que as ensinasse e ela sempre aceitou, prova disso é que chegou a ter 5 e 6 raparigas ao mesmo tempo a aprender, e acha que num total deve ter ensinado a arte da costura a umas 20 ou 30.
D. Custódia vê com maus olhos o futuro da profissão de costureira, e acha que daqui a uns 50 anos já não devem existir costureiras, porque hoje em dia as que restam já têm pouco trabalho. Hoje em dia, D. Custódia acha que tem tempo livre demais, e confessa “...quem me dera não ter tanto tempo livre... Mas vou à ginástica todas as semanas, vou ao Centro de Dia, faço as minha compras e depois ainda faço algumas coisinhas por aí, na minha máquina, quem me dera poder fazer mais...”
Nasceu já costureira e não gostava de ter sido outra coisa, e quando lhe perguntamos se se considerava uma pessoa feliz, respondeu generosamente: “... Sim, não me posso queixar!”
Obrigado, D. Custódia Albino. Temos saudades suas!

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Monchique, Marmelete, Portugal
Potenciando a efectivação de um acompanhamento do envelhecimento construtivo e activo, o Centro de Dia de Marmelete, consiste numa resposta social de apoio à população idosa da freguesia de Marmelete, incidindo a sua dinâmica institucional para colmatar as demais necessidades e/ou problemas de cariz sócio-demográfico. O Centro de Dia de Marmelete comporta as valências de Serviço de Apoio Domiciliário e Centro de Convívio. Conta com o apoio de 170 associados, entre os quais 16 encontram-se inseridos no Serviço de Apoio Domiciliário e 40 no Centro de Convívio.

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