Histórias de Vida - José da Silva Conceição


O Sr. José sempre foi minador, embora também tivesse trabalhado como pedreiro durante dois anos em Alemanha, partiu pedras numa pedreira e depois de reformado ainda foi vigilante florestal numa torre de vigia na serra da Fóia. Mas a maior parte do tempo, durante toda a sua vida trabalhou como minador.
Um minador faz poços e minas, para fazer uma mina primeiro escava-se um buraco na terra, com uma largura de mais ou menos 80cm e 1, 80m, escava-se até conseguir captar água. Mas tem que se ir entaipando o terreno para se conseguir trabalhar e não cair terra em cima dos trabalhadores, uma espécie de um tecto de madeira, e se encontra água suficiente pára-se de escavar. Os poços têm que ser sempre construídos num terreno plano, enquanto que as minas têm que ser numa encosta, ou no meio de um monte. Para se construir um poço, primeiro tem que se marcar o lugar e depois vai-se escavando, cercando com madeira e depois empedrando com tijolo. O Sr. José costumava a usar uma régua para que a parede ficasse sempre direita e com o mesmo diâmetro. O processo é sempre o mesmo até se conseguir encontrar água. Quando a água não for muita e se já tivermos escavado bastante, tem-se que fazer uma mina dentro do próprio poço para assim conseguir mais água.
O Centro de Dia de Marmelete atento às declarações do Sr. José e sabendo que se trata de um trabalho bastante duro e perigoso, pergunta-lhe se alguma vez apanhou um susto durante a sua execução, e o Sr. José responde: “(...) Ai não, que não apanhei! Foram tantos! Com água e com terra, uma vez pensei mesmo que morria soterrado, mas graças a Deus ainda cá estou.(...)” Quando queria ter a certeza de que ia encontrar água, chamavam pessoas especialistas em encontrar água, os vedores, e eles diziam quantos metros é que tinham que escavar para encontrar água, mas às vezes também se enganavam. Já o Sr. José devido à experiência que tinha, raramente se enganava, conta-nos por exemplo, que num terreno rochoso não dava para fazer uma mina ou um poço. Para conseguir ver debaixo da terra usava um gasómetro, uma espécie de lanterna que acendiam com umas pedras, tinha uma espécie de carvão que ia ardendo e assim tinham luz para conseguir trabalhar.
O seu oficio aprendeu com o seu pai e com os outros que trabalhavam com ele, e conta-nos em tom de brincadeira que desde os 8 anos que começou a escavar buracos na terra. Trabalhava por conta própria e sempre tive muito trabalho, mal acabava um poço já tinha outro para fazer. No seu dia-a-dia enquanto minador, trabalhava entre 8 a 10 horas diárias começava às 08h00m e terminava às 17h00m, só descansava ao Domingo e férias nunca tive.
Era um trabalho lucrativo e sempre ganhava mais do que aqueles que andavam a trabalhar na terra. Como o pai sempre trabalhou como minador começou a trabalhar com ele, e sempre foi contratado para fazer o seu oficio, e como o trabalho também escasseava ao ser minador sempre ganhava mais.
A arte do seu ofício ensinou alguns daqueles que trabalhavam consigo, mas nunca tive gente nova a aprender, “(...) também quem é que queria andar aí cavando buracos para encontrar água debaixo da terra (...)” diz o Sr. José a rir. Não se recorda de quanto minas fez na sua vida, mas poços acha que foram mais ou menos 22. Diz-nos que um poço com 10m, levava mais ou menos um mês ou um mês e meio a construir e isto se a terra fosse boa de escavar. Desde que se reformou que não trabalha como minador, e que ainda devem existir uns dois ou três minadores, mas qualquer dia deixam mesmo de existir.
Quando o Centro de Dia de Marmelete perguntou-lhe se daqui a 50 anos ainda haverá pessoas a trabalhar como minadores, o Sr. José responde: “(...,) Não, não há, não senhora! Nem precisa de tanto tempo, daqui a uns 6 ou 7 anos já não encontramos pessoas que saibam fazer este trabalho, dos mais novos ninguém quis aprender.” E quando lhe perguntamos se tinha alguma profissão de sonho, respondeu com uma gargalhada: “(...) Ora, gostava de ter sido doutor(...).”
Nos seus tempos livres descansa e trabalha na sua horta e acha-se uma pessoa feliz assim. Obrigado Sr. José da Silva Conceição.

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Monchique, Marmelete, Portugal
Potenciando a efectivação de um acompanhamento do envelhecimento construtivo e activo, o Centro de Dia de Marmelete, consiste numa resposta social de apoio à população idosa da freguesia de Marmelete, incidindo a sua dinâmica institucional para colmatar as demais necessidades e/ou problemas de cariz sócio-demográfico. O Centro de Dia de Marmelete comporta as valências de Serviço de Apoio Domiciliário e Centro de Convívio. Conta com o apoio de 170 associados, entre os quais 16 encontram-se inseridos no Serviço de Apoio Domiciliário e 40 no Centro de Convívio.

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