Histórias de Vida - AGOSTINHO V ENTURA


O medronho sempre fez parte da sua vida, ou não fosse ele de Marmelete. Actualmente com 72 anos, Agostinho Ventura continua a produzir uma das mais apreciadas bebidas de todo o mundo, preservando assim uma tradição muito antiga.
Costumava cuidar no gado e fazia sua horta para depois ir vender os seus produtos. O negócio do medronho foi herança de família, naquela altura quase toda a gente apanhava medronho, e destilavam em qualquer sítio, agora com as novas legislações está tudo um pouco mais complicado. Aprendeu a destilar medronho com o seu pai que sempre fez medronho desde que se lembra, e o Sr. Agostinho desde miúdo que sempre o ajudou, embora naquela altura não me interessasse muito pelo assunto.
Saber fazer Aguardente de Medronho é uma arte e não é para qualquer um, diz o Sr. Agostinho Ventura. O principal segredo para uma aguardente sair boa, começa logo na apanha do fruto. O medronho tem que estar bem maduro e tem que se ter cuidado para não se apanhar folhas nem ramos com o fruto, tudo tem que estar muito bem limpinho. Depois de apanhado põe-se numa vasilha muito bem limpinha e tapa-se, quando estiver no ponto, ou seja, quando estiver bem fermentado, põe-se no alambique e vai ao lume com um pouco de água até ferver, em seguida põe-se a cabeça da caldeira e espera-se até começar a correr. O principal segredo passa pela limpeza e pelo tempo de quando a aguardente começa a correr, e se por acaso a mais fraca se mistura com a boa estraga-se tudo o resto, e isto só se sabe com a experiência de fazer Aguardente de Medronho.
O Sr. Agostinho é produtor de Aguardente de Medronho e tem a sua pequena destilaria nas devidas condições de acordo com a lei, ele é produtor da Aguardente de Medronho de Marianes. O lucro não é muito refere o Sr. Agostinho, pois tem muita despesa para que possam cumprir as leis. Apesar de gostar do que faz é algo que faz pelo gosto e não pelo lucro..
O Centro de Dia de Marmelete pergunta assim ao Sr. Agostinho: Fala-se muito na perda de qualidade do medronho com a legalização, tem essa opinião? “(...) Olhem eu acho que não, que isso não é verdade… A aguardente pode ser engarrafada e já não ser uma boa aguardente, mas isso é como tudo, o medronho pode não ser bem conservado, ou ao fazer-se pode não ser bem feito, ou até há anos que o medronho é mais fraco, enfim coisas que ninguém controla. Agora nós temos é que tentar fazer sempre o melhor possível, para que isso não aconteça. Mas lá por a aguardente ser engarrafada não quer dizer que seja ruim, e se por acaso ela tiver algum problema acusa na análise e nós não podemos vendê-la, porque sabem cada vez que engarrafo aguardente ela tem que ser analisada. E estas novas leis não prejudicam nada na qualidade da aguardente…”
O Sr. Agostinho acha que a famosa aguardente de medronho continua a ter a mesma qualidade, e conhece pessoas mais jovens que sabem fazer muito bem aguardente de medronho, e nota que o interesse dos mais novos pela aguardente de medronho é cada vez mais. A única pessoa que demonstrou interesse em aprender consigo a arte da aguardente de medronho foi o seu genro, pois as outras pessoas da sua família nunca manifestaram interesse, e foi sobretudo por causa dele que abriu a destilaria devidamente legalizada.
Não tem ideia de quantos litros de medronho já produziu em toda a sua vida e de quantos quilos de medronho já apanhou, e diz que daqui a 50 anos vê muitos jovens a fazer aguardente de medronho, pois para ele é algo que nunca se vai perder. Nos seus tempos livres trabalha na sua horta, mas o medronho ocupa-lhe o ano todo, tem que tratar dos medronheiros para dar bom fruto e ter medronhos de boa qualidade para destilar.
A profissão de sonho do Sr. Agostinho Ventura era ter trabalhado com tractores na agricultura, gostava muito de ter conseguido tirar a carta de condução para poder conduzir tractores. Mas apesar de tudo é uma pessoa feliz dentro das suas possibilidades.
Obrigado, Sr. Agostinho Ventura.

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Potenciando a efectivação de um acompanhamento do envelhecimento construtivo e activo, o Centro de Dia de Marmelete, consiste numa resposta social de apoio à população idosa da freguesia de Marmelete, incidindo a sua dinâmica institucional para colmatar as demais necessidades e/ou problemas de cariz sócio-demográfico. O Centro de Dia de Marmelete comporta as valências de Serviço de Apoio Domiciliário e Centro de Convívio. Conta com o apoio de 170 associados, entre os quais 16 encontram-se inseridos no Serviço de Apoio Domiciliário e 40 no Centro de Convívio.

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