Poema de São Martinho

S. MARTINHO


Pensei fazer estes versos
Com admiração e carinho
Vou falar aqui dum Santo
Que se chama S. Martinho

Diz a lenda que foi soldado
Do Imperador Juliano
Deu provas muito certas
Ser um Santo muito humano

Num dia de vendaval e neve
Na frente um mendigo lhe apareceu
Seminu, tiritando com frio
Sua mão gelada lhe estendeu

Ia montado num belo cavalo
Enrolado numa capa e com a espada
Teve então muita pena do mendigo
E o cavalo parou no meio da estrada

Tirou então a sua capa
E com a espada ao meio a cortou
Deu metade dela ao mendigo
E na outra metade se embrulhou

O pobre homem muito reconhecido
Disse, Deus lhe dê alegria e bem estar
E o dia muito escuro e frio
Seguidamente começou a brilhar

A partir deste acontecimento
Deus nos compensou com carinho
Dando calor a todos nós
Com o belo verão de S. Martinho


MARMELETE, 10 DE NOVEMBRO DE 1987
MARIA CUSTÓDIA ALBANO NUNES

Memórias... profissões de antigamente

MARIA JOÃO ELIAS

D. Maria João lembra que nunca teve uma profissão, sempre trabalhou naquilo que era necessário. Contudo, com um alegre sorriso confessa que cozeu pão durante muitos anos, mas nunca foi “padeira de profissão”.

O seu trabalho, consistia em amassar e cozer o pão e depois vender às pessoas. D. Maria João explicou-nos como é que fazia o seu pão. “...Primeiro temos que fazer o fermento na noite anterior à cozedura, eu fazia sempre com a leveda que tirava da massa. E antes de amassar, tinha que peneirar a farinha, porque naquele tempo a farinha vinha do moinho cheia de farelos. Depois amassa-se, e espera-se que o pão finte no alguidar e depois tendemos e pomos no tabuleiro até crescer, em seguida vai para o forno. Ah! Só vai para o forno, quando ele estiver ardido e quente e depois temos que varrer.” Acendia o forno com qualquer tipo de lenha. E o forno era varrido para tirar a cinza com um varredor feito com fetos que a própria fazia. D. Maria João cozia pão todos os dias da semana, menos ao Domingo. Só fazia uma cozedura por dia, de mais ou menos 20 pães. Sempre amassou à mão, pois naquela altura não existiam máquinas. Aprendeu a amassar em casa, sempre viu a mãe amassar e foi com ela que aprendeu.

Sempre trabalhou em sua casa, ou seja, por conta própria. Recorda que era uma vida muito dura, mas que o lucro compensava. Levantava-se todos os dias de madrugada para amassar, para que o pão à tarde estivesse preparado para vender, E ainda trabalhava na horta com o seu marido.

D. Maria João diz que não escolheu a sua profissão, uma vizinha que cozia pão, deixou de o fazer e como não havia ninguém que amassasse, começaram a incentivá-la, e ela começou a cozer e correu bem. Lembra-se que foi mais por uma questão de necessidade, do que por outra razão.

Apesar de ter aprendido com a sua mãe, nunca ensinou a sua arte a ninguém.

O Centro de Dia de Marmelete perguntou-lhe qual era o segredo do seu pão, e respondeu-nos que acha que se existir um segredo só pode ser na qualidade da leveda ou da farinha. Gosta tanto de amassar pão, que ainda hoje coze pão só para o seu próprio consumo. Diz-nos que os padeiros de hoje já têm muita sorte, pois têm a vida bastante facilitada, porque quase todos têm máquinas para amassar o que facilita muito e não cansa tanto.

Perguntamos à D. Maria João, se daqui a 50 anos ainda haverá padarias tradicionais ou pessoas que ainda cozam pão em casa de forma artesanal, e ela respondeu que nos dias que correm e com as máquinas que existem já quase toda a gente pode amassar pão. Como sempre gostou do que fazia nunca pensou em ter outra profissão, e considera-se uma pesSoa feliz. Obrigado D. Maria João!



MANUEL ALEXANDRE DA SILVA

Aos 14 anos já arrancava mato, na altura ganhava 7 escudos por dia, trabalhou nos fornos de carvão com o seu pai até aos 19 anos, foi ainda servente de pedreiro, taipeiro e trabalhou na agricultura. Entretanto, foi morar no Bairro das Marias e começou a trabalhar como canastreiro.

Fazia canastras, cestos, cestas e garrafas tudo em vime. Ninguém o ensinou, viu umas pessoas fazerem e experimentou.

Apenas aprendeu alguns truques, com um senhor seu amigo da Nave - Monchique, o Jaiminho. E foi ele, que também lhe ensinou a fazer as cestinhas fechadas que antigamente os homens usavam para levar o farnel para o trabalho. Este negócio das canastras e dos cestos era por conta própria, mas não conseguia sobreviver só disso, tinha de trabalhar no que aparecia para ganhar mais algum e fez um pouco de tudo.

A profissão de canastreiro era para as horas vagas, era um complemento para ajudar nas despesas. Quando começou a aparecer o plástico, as pessoas deixaram de lhe comprar canastras e cestos, compravam tudo em plástico, até porque naquela altura era novidade e muito mais barato. Consequência disto, houve um tempo que o negócio do vime morreu completamente. E só passado algum tempo, é que começou a vender de novo as coisas que fazia.

O Sr. Manuel diz-nos: “(...) Olhem levantava-me de noite e deitava-me de noite, trabalhava de Domingo a Domingo, nunca soube o que foram folgas e férias muito menos. Mas também, nunca me faltou trabalho e ainda bem que assim foi.”

O Centro de Dia de Marmelete pergunta-lhe: É muito difícil moldar os vimes? Como é que só com vimes, se consegue construir um objecto tão resistente, como uma canastra? Que ainda por cima, transporta coisas tão pesadas e em tão grandes quantidades? Ao que o Sr. Manuel responde: “(...)Não, não é! Ou pelo menos, eu não acho… é tudo uma questão de jeito, de prática e de muita paciência. É necessária muita paciência sobretudo, porque tem que bater tudo certo para que o trabalho fique bem feito, por isso acontecia muitas vezes, estar quase a acabar e ter que desmanchar e voltar a fazer tudo de novo.(...)” Este senhor fazia de tudo, canastras, cestos, cestinhas, garrafas e garrafões, porque na altura começou a ser moda as garrafas enfeitadas com vimes, as garrafas vergadas.

Lembra-se que vendia muitas das suas artes, Quando começou a vergar as garrafas era o produto que mais saída tinha, assim como as cestinhas pequeninas que também se vendiam bem.

Era um trabalho que não era lucrativo, o trabalho que tinha, não compensava aquilo que ganhava. Diz o Sr. Manuel: “(...) Então, eu levava metade de um dia para vergar uma garrafa de 1l e no final vendia-a por 500 escudos, imaginem lá! Num dia só conseguia fazer duas garrafas, para no fim ganhar 1000 escudos por dia.” Sempre gostou destas artes, só Tem pena de nunca ter tido aprendizes, nem mesmo o seu próprio filho. Hoje em dia, já não consegue fazer as peças que tanto gostava. Acha que os canastreiros de hoje em dia fazem um bom trabalho, embora já sejam poucos, mas também acha que têm uma maneira de trabalhar completamente diferente da sua, especialmente nos acabamentos… o maior garrafão que vergou tinha 50L.

É com tristeza, que diz que daqui a 50 anos já não iremos encontrar pessoas a trabalhar como canastreiros, os que ainda fazem trabalhos, estão já cansados e não se vê gente nova interessada em aprender, e assim a tradição mais dia menos dia morre aqui. Quando o Centro de Dia de Marmelete lhe pergunta, se não fosse canastreiro o que é que gostava de ter sido? Qual era a sua profissão de sonho? O Sr. Manuel a rir responde: “(...)Não sei o que gostava de ter sido, nunca pensei muito nisso… Sempre fui trabalhando naquilo que me aparecia, mas também nunca estudei por isso não podia ter sido grande coisa.” Nos seus tempos livres, descansa e quando as pernas lhe permitem vai até ao café, e apesar de tudo considera-se uma pessoa feliz assim. Muito Obrigado, Sr. Manuel Alexandre!



AVELINO DA CONCEIÇÃO RIBEIRO

O Centro de Dia de Marmelete foi ao encontro de Gracinda Rodrigues, para saber mais sobre o antigo carteiro e barbeiro da Freguesia de Marmelete – Avelino da Conceição Rodrigues.

Homem de duas profissões, foi barbeiro e carteiro ao mesmo tempo. Estas profissões foram uma herança do pai de Sr. Avelino Rodrigues, que também exerceu estas profissões. Este Sr. começou primeiro por trabalhar como barbeiro, cortava os cabelos e fazia as barbas aos clientes maioritariamente da freguesia de Marmelete, uma vez que o seu pai começou a dedicar-se mais à distribuição de correio. Entretanto o pai faleceu, o Sr. Avelino decidiu continuar com a profissão do pai. Naquela época existia pouco correio, e as pessoas recebiam e enviavam poucas cartas. Era o único a distribuir o correio, e trabalhava para a empresa CTT, Correios de Portugal, SA.

Segundo D. Gracinda, “era uma vida muito complicada e muito dura, levantava-se muito cedo, de madrugada e depois ia por esses montes a pé, quer chovesse ou fizesse sol. No Inverno chegava a casa todo molhado e cheio de frio… mas nunca deixou uma carta por entregar, sempre foi muito profissional. Às vezes, quando não conseguia entregar todas as cartas num dia, no dia a seguir levantava-se muito cedo para que quando o correio chegasse de Monchique, ele estivesse ali. Ai meu Deus! Quando eu pensava que ele ia chegando ao sítio, já ele vinha de volta… (risos) Andava muito depressa.”

O único descanso do Sr. Avelino, era ao Domingo à tarde porque na parte da manhã tinha que distribuir o correio, e ainda trabalhou muitos anos sem ter férias.

Como carteiro não ganhava muito, então o trabalho na barbearia sempre ajudava a ganhar mais alguma coisa. D. Gracinda, diz que o marido escolheu esta profissão por gosto e porque era a profissão do pai… Eram profissões com as quais ele sempre conviveu em criança, por isso, sempre gostou muito da sua profissão. Recorda-se que o marido fazia muitos quilómetros a pé só para entregar uma carta, e nunca deixou uma carta por entregar… Depois com o passar do tempo, conseguiu comprar uma bicicleta a pedal e isso já o ajudou um pouco mais.

Questionada sobre as diferenças que existiam entre os carteiros do tempo do seu marido e os carteiros de hoje, refere que hoje é tudo tão diferente, os carteiros distribuem a correspondência em carros, não andam a pé, nem de bicicleta como o seu marido andava e não vão nem a metade dos sítios e lugares a que o seu marido ia... “Está tudo completamente diferente!”

O Sr. Avelino nunca teve ninguém a aprender com ele a profissão. Porque entretanto, o correio começou a ser distribuído pelo actual carteiro, e quando o Sr. Avelino se reformou o sistema na empresa já tinha mudado. O Sr. Avelino trabalhou 36 anos como carteiro. Apesar das mudanças, D. Gracinda pensa que é uma profissão que nunca vai deixar de existir, porque sempre existirão cartas e encomendas para entregar. D. Gracinda, recorda que o marido “gostava muito daquilo que fazia… Gostava mesmo!”. E o Centro de Dia de Marmelete (em jeito de brincadeira) perguntou-lhe, se ele lhe tinha entregado muitas cartas de amor, ao que a D. Gracinda com um sorriso respondeu: “...Ai, sei lá! Como já disse ele era muito profissional, muito discreto acerca do seu trabalho, quando alguém lhe perguntava alguma coisa, ele respondia logo que apenas entregava o correio, e mais nada… Mas com certeza que entregou algumas.” E perguntamos ainda: E a si entregou-lhe muitas cartas de amor, ou nem por isso? E D. Gracinda mais uma vez com uma suave gargalha respondeu “Bom, ele já estava casado comigo, por isso…”O Sr. Avelino sempre gostou muito das duas profissões que tinha, e foi por isso que continuou a exercer as duas, e nunca foi capaz de optar por uma delas.

D. Gracinda acha que o marido sempre gostou de ser carteiro e barbeiro, e recorda que gostava muito de ler, passava muitas tardes a ler. Adorava contar histórias, e contava muito bem anedotas. Por isso, acha que se ele tivesse tido outra profissão, só se fosse alguma profissão relacionada com estas actividades.

Obrigado D. Gracinda e Sr. Avelino Rodrigues!




EDUARDO JOSÉ PASCOAL

Com 84 anos de idade, este homem dos sete ofícios, trabalhou como sapateiro, bilheteiro, condutor de malas, e até taberneiro. as vicissitudes da vida sempre as encarou de frente e nunca teve medo de trabalhar. Com uma história de vida que merece ser contada, Eduardo Pascoal é a memória em pessoa.

Natural de Casais, tinha 4 anos quando veio morar para Marmelete com os seus pais. Começou a trabalhar aos 14 anos, quando saíu da escola onde fez a 4ª classe, começou a trabalhar no campo, e durante 7 anos foi sapateiro na casa do seu sogro. Foi taberneiro no Clube Recreativo de Marmelete, e até trabalhou na loja de fazendas do Sr. Joaquim Tuta. Durante 10 anos e meio foi condutor de malas de correio, isto é, recolhia a correspondência nos postos de correio de Marmelete para Monchique, todos os dias a pé, duas vezes, fazia cerca de 40 Km, 20 de manhã e 20 à tarde, e pelo caminho ia recolhendo as cartas nos diferentes postos de correio de Marmelete, do Corgo do Vale, da Cercada, da Nave e de Monchique… Entretanto, os postos de correio foram encerrados e ficou 1 ano e meio desempregado. Depois começou a trabalhar como cobrador de bilhetes nos autocarros, e durante 39 anos dedicou todo o seu tempo a essa profissão.

O seu ofício, consistia em cobrar as viagens aos passageiros e além disso, também recolhia as bagagens. Recorda-se o sr. Eduardo: “Às segundas-feiras lembro-me de ter chegado a carregar cerca de 60 a 70 volumes, no percurso da Nave para Portimão.” O seu percurso consistia em saír de Marmelete às 08h00m, parava em Alferce, de Alferce ía para Monchique e de Monchique ía para Portimão, depois voltava a fazer o mesmo percurso no sentido inverso.

Naquele tempo, o autocarro era o único meio de transporte que as pessoas podiam utilizar. Lembra-se que: “ao Domingo haviam 4 carreiras para Portimão, eu abalava daqui às 8h da manhã e chegava às 22h, e de segunda-feira a sábado existiam duas carreiras, uma de manhã e outra de tarde.” numa semana, teve que aprender os percursos e os preços de todas as viagens. trabalhava para a empresa Castelo e Caçorino Lda., que era a única a fazer os transportes no concelho de monchique.

O sr. Eduardo conta-nos que gostava muito do seu trabalho, acordava às 6h30m / 7h para contar o dinheiro dos bilhetes, que depois tinha que entregar na sede, em Portimão. chegava a casa pelas 20h e de Verão trabalhava mais, chegava por volta das 22h. Tinha 2h de almoço, excepto ao Domingo em que só tinha 1h. trabalhou durante 6 anos sem ter descansos semanais, e só depois começou a descansar um dia por semana e a ter férias, onde era substituído por um colega de Portimão. Quando começou a trabalhar recebia 16 contos e 80 centavos por mês, quando saíu ganhava já 78 contos.

O sr. Eduardo diz que não escolheu a sua profissão, simplesmente precisava de trabalhar, tinha família para sustentar e a oportunidade surgiu.

nunca teve aprendizes porque era a sua empresa que instruia os funcionários.

Na conversa com o centro de dia de marmelete, lembra-se que quando começou a trabalhar, um bilhete de Marmelete para Monchique custava 5 escudos e 60 centavos e para o Corgo do Vale custava 11 tostões, depois foram aumentando com o passar do tempo. Hoje em dia diz que, já não vê tantos revisores em autocarros, e as pessoas utilizam cada vez menos os transportes, cada um tem o seu próprio carro.

Nunca sonhou com nenhuma profissão em especial, só queria ganhar algum dinheiro para ir sobrevivendo. De todas as profissões que teve, a que mais gostou foi de ser condutor de malas e cobrador de bilhetes.

nos seus tempos livres frequenta o café, vê televisão, e pouco mais. apesar de tudo, o sr. Eduardo diz que não se pode queixar da sua vida, não passou grandes dificuldades, e as que teve foi conseguindo ultrapassá-las, por isso considera-se uma pessoa feliz! Muito obrigado sr. Eduardo pascoal!




JOSÉ JOAQUIM FERNANDES


Conhecido em toda a Freguesia de Marmelete por José Alexandre, o seu verdadeiro nome é José Joaquim Fernandes, o Centro de Dia de Marmelete foi para o terreno e realizou parte da sua entrevista a tirar fotografias ao dia-a-dia deste senhor. Sempre trabalhou no campo e com animais, começou a trabalhar com 5 anos, e nunca gostou muito de frequentar a escola. Andou 3 meses na Escola Primária do Passil, mas entretanto a escola fechou. Depois, só aos 20 anos, quando abriu a escola à noite com a senhora professora Guilhermina, é que pagou para frequentar às aulas todos os dias à noite (a antiga Escola Primária, que é o actual edifício do Centro de Dia de Marmelete). Com todo este esforço conseguiu fazer o exame da 3ª classe e passou. desde Sempre, se interessou pela vida do campo e pelo negócio que podia fazer daí. Comprava animais para criar e depois vendia, fazia hortas bastante acrescentadas de feijão, batatas, milho, cebolas, alhos para depois vender. Os animais eram vendidos nas feiras, saía de Marmelete com rebanhos de cabras ou de ovelhas. era na altura o maior vendedor da freguesia e vendia na feira de Aljezur, Monchique, Rogil e até em S. Miguel. Relativamente aos produtos da horta, tinha compradores fixos que lhe compravam os produtos e depois iam voltar a vender na praça em Portimão. Este verdadeiro homem de negócios além disto, ainda vendia aguardente, carvão e presuntos curados. O Sr. José Fernandes sempre adorou a sua vida de negócio, trabalhava por conta própria e diz com orgulho que aprendeu a arte do negócio com o seu pai, e a sorrir diz-nos que “...é preciso arte para saber negociar.” sempre Trabalhou de sol a sol, pois segundo o Sr. José Fernandes, naquela altura quem não estivesse no trabalho ao nascer do sol já não ganhava o dia. só descansava ao Domingo - Dia Santo e todos os dias religiosos. O Sr. José Fernandes confessa que o negócio só era rentável, devido à sua arte de saber negociar, e também porque tentava Fazer dinheiro em tudo aquilo que conseguisse vender. Chegou a vender um litro de aguardente por 5 Escudos, e fez render um carneiro de mais ou menos 25 kg por 75 Escudos, o que ainda era dinheiro naquela altura. Explica que, escolheu este ofício porque tinha que ganhar dinheiro e porque sempre gostou da vida de negócio, sempre lhe deu entusiasmo pela vida da agricultura e da criação de animais. Aos 17 anos comprou a sua primeira terra para cultivar, pois o seu principal objectivo era trabalhar e arranjar dinheiro, e em tom de brincadeira dizia: “... quanto mais melhor.” Nunca ensinou a ninguém a arte de saber negociar, nem os filhos se interessaram pelo seu trabalho, contudo diz que o neto tem um pouco da arte da vida do avô. ainda Teve algumas pessoas a trabalhar consigo, especialmente na época da apanha do medronho. Quando, o Centro de Dia lhe perguntou se daqui a 50 anos ainda existiriam pessoas a criar animais e a cultivar terra, o Sr. José Fernandes diz-nos que este trabalho nunca pode acabar pois, as pessoas precisam sempre de comer e com todas as máquinas que hoje existem, as pessoas têm a vida bastante facilitada. Nunca sonhou com mais nenhuma profissão, pois sempre fez aquilo que mais gostava e, nunca se interessou por outro tipo de trabalho. Nos tempos livres, ainda continua a tratar dos seus animais e a fazer a horta, e vai ao café e é assim que passa os seus dias… O Sr. José Fernandes confessa-nos que é feliz, agradece a Deus pela vida. E o Centro de Dia de Marmelete agradece a sua disponibilidade!

Obrigado Sr. José Joaquim Fernandes.



FRANCISCO CANDEIAS


Tinha 14 anos quando começou a trabalhar na terra, e depois começou a serrar madeira e na altura, recorda-se que ganhava 14 escudos por dia. O Sr. Francisco Candeias era carpinteiro de machado. Como não existiam serras eléctricas todo o trabalho era manual. Eram sempre necessários dois homens para serrar uma árvore, um agarrava na serra de um lado e o outro do outro, e depois iam serrando até conseguir cortar a árvore. Numa espécie de desabafo, o Sr. Francisco Candeias diz: “...Agora imaginem bem, naquele tempo tínhamos que abalar aí para longe, para os montes onde ficávamos uma semana, ou duas para conseguirmos fazer o serviço. Tínhamos que levar comida e agasalhos, e ainda as ferramentas de trabalho e carregávamos tudo às costas. Imaginem lá bem, como era a vida naquele tempo.” Conta-nos, que trabalhava por conta própria e que ganhava cerca de 25 escudos por dia, e quando o serviço era de empreitada ganhava 28 tostões por metro, mas ainda se lembra de ganhar 3 escudos por metro. O trabalho era muito, e aquilo que ganhava não compensava o esforço que tinha. esta profissão aprendeu-a com o seu pai, que sempre foi carpinteiro de machado. o Sr. Francisco foi carpinteiro de machado até aos 52 anos. emigrou para a Alemanha durante 3 anos, e lá trabalhou numa fábrica de carros de guerra, onde era ajudante de mecânico, fazia a lavagem das peças. Recorda-se que toda a sua vida sempre foi muito dura e trabalhava de sol a sol, e fez um pouco de tudo. Diz-nos que Quando saiu da tropa começou a vender leite, o negócio durou 6 anos. Só levava o leite à casa do prior, aos doentes e às mães das crianças que tinham os bebés e não podiam vir buscar o leite. Os outros clientes vinham buscar o leite à sua casa, mas mesmo assim conta que era uma confusão porque todos queriam que ele fosse às suas casas levar-lhes o leite. Apenas com 3 vacas leiteiras, vendia cerca de 35 a 40 litros de leite por dia e mesmo assim não chegava para as encomendas. Pois na sua altura ,era o único a vender leite, e como não havia mais ninguém toda a gente lhe comprava leite. Lembra-se que compensava mais tratar das vacas e vender o leite, do que ganhar 20 escudos por dia a cavar terra, pois um litro de leite custava 24 tostões, depois passou para 26 tostões, e ainda chegou a vender a 28 tostões. Só quando foi para a Alemanha é que começou a ter folgas e férias. Escolheu o ofício de carpinteiro de machado porque precisava de ganhar para sustentar a família, infelizmente nunca teve aprendizes para ensinar a sua arte, e já há algum tempo que não pratica a sua profissão. Quando o Centro de Dia de Marmelete lhe perguntou se gostava daquilo que fazia, o Sr. Francisco Candeias respondeu com ar sorridente: “Que remédio, tinha que gostar nunca me apareceu coisa melhor! (...) mas, do que gostei mais, foi quando estive na Alemanha, porque não fazia nada e ganhava bem! Ora, mas o que eu gostava mesmo, era de ter sido doutor! Isso é que era uma profissão boa!” Nos seus tempos livres faz a sua horta, trata dos animais, de umas cabras que sempre foi um animal que gostou muito de ter, vai ao café onde está com os amigos. Considera-se uma pessoa feliz pois não tem que se queixar. Obrigado Sr. Francisco Candeias!


MANUEL JOSÉ CORREIA


Bem disposto por natureza, Manuel José Correia de 77 anos é dos poucos que conhece a arte de trabalhar a madeira na sua forma mais artesanal, ao fazer colheres de pau. Diz que não é um trabalho difícil, mas sim um bom teste à paciência.

foi agricultor, e a sorrir diz que não tinha outro remédio. Trabalhava cerca de 12 a 15 horas por dia, não tinha folgas e muito menos férias. Mas apesar de ser um trabalho duro era suficiente para sobreviver.

o artesanato surgiu na sua vida como que uma herança dos seus antepassados, tanto o seu pai como os seus tios faziam colheres de pau, é portanto uma tradição de família.

Aprendeu o seu ofício Com o pai, contudo em pequeno nunca manifestou grande interesse pela arte, simplesmente ajudava o seu pai. Só entre 1972 e 1982 é que se começou a dedicar à arte, e tudo porque no casamento de um dos seus filhos faltaram as colheres e ele prontificou-se a fazê-las.

a sua principal ocupação, sempre foi a agricultura e a criação de animais, e a arte das colheres de pau era apenas um passatempo, e às vezes fazia também para as pessoas que lhe pediam, mas não fazia disso um negócio. De há três anos para cá, é que se dedicou mais à arte, porque começou a participar na Feira de Artesanato de Marmelete organizada pela junta de freguesia de marmelete, logo teve que fazer material suficiente para expor e assim, foi ganhando alguns clientes.

O centro de dia de marmelete perguntou ao sr. Manuel como é que se faz uma colher de pau, e o sr. Manuel responde assim: “Então isto não é nada de extraordinário… O primeiro segredo é saber escolher a madeira, depois põe-se de molho na água para ela inchar, de seguida talhamos a moldura e depois deixa-se secar, e por fim passamos a lixa, para que a colher fique lisinha. a parte mais difícil é a moldura, porque é preciso muita paciência e muito cuidado para não darmos cabo da colher.” conta-nos que nunca escolheu este ofício, foi algo com que sempre conviveu desde criança e assim foi aprendendo.

Diz-nos ainda, que um dos segredos é saber escolher a madeira. A madeira de urze, a de nespreira e a de laranjeira, são as três madeiras melhores para se fazer colheres de pau. O sr. manuel Não nunca tive aprendizes na sua arte, e Nem os seus filhos ou netos manifestaram interesse em aprender, por isso também nunca lhes ensinou. O que quer dizer que esta arte de família, que tanto gosta de fazer, acabará consigo.

Algumas pessoas ainda lhe compram colheres de pau, mas já não tanto como antigamente. Noutros tempos só se usava colheres de pau para tudo, não existia o plástico nem o inóx, só existiam colheres de madeira. E o sr. manuel acrescenta ainda: “com a colherzinha de madeira sempre é outra coisa não é verdade, a comida parece que fica com outro sabor.”

Conta ao Centro de Dia de marmelete que não tem ideia de quantas colheres é que já fez, Mas estima que já fez 300 a 500 colheres de pau.

Infelizmente Acha que daqui a 50 anos já não haverá pessoas a fazer colheres de pau, pois já são poucas as pessoas a fazer esta arte, e as que fazem são gente da sua idade e não vê gente nova interessada em aprender.

nos tempos livres, trabalha na sua horta e descansa quando lhe é permitido.

Quando se perguntou ao sr. manuel Qual é que era a sua profissão de sonho, com um ar muito divertido e muito rapidamente respondeu: “Ora, gostava de ter sido médico ou oficial do exército, isso é que eram umas profissões boas.”

Apesar de tudo, o sr. manuel considera-se uma pessoa feliz.

Muito obrigado sr. manuel correia!


"Os Carnavais de Antigamente"


No passado dia 25 de Fevereiro, o Centro de Dia de Marmelete organizou mais uma tertúlia entre os utentes sobre o mote “Os Carnavais de Antigamente”.

Durante uma hora e meia os utentes recordaram os seus Carnavais de criança, de como se costumavam mascarar com os trapos velhos que tinham em casa e depois iam para os bailes onde dançavam e cantavam até de manhã. Falou-se ainda dos famosos cordões de Carnaval, que eram feitos pela aldeia toda, em que as pessoas mascaradas iam aos pares pelo povo de Marmelete dançando, com um artista convidado na frente. Estes cordões eram tão conhecidos que chegavam a vir pessoas de outras localidades para participarem nesta romaria.

Com vários sorrisos na cara e muitas gargalhadas à mistura, todas as participantes recordaram as travessuras e partidas que eram próprias do Entrudo, sendo as cacadas a travessura mais popular. As cacadas era uma brincadeira, que consistia em juntar um conjunto de cacos e pedacinhos de loiça embrulhados num pano, ou punham dentro de uma bilha ou cântaros de barro, e depois iam pela freguesia e jogavam para dentro das casas das pessoas e de seguida fugiam. Ora, isto fazia um grande alarido e a casa ficava cheia de cacos, e quando não era possível jogar para dentro de casa, jogavam para a porta. Esta era uma das partidas mais comuns e que provocava o divertimento genuíno nas crianças que eram os principais actores destas brincadeiras.

Aproveitando o facto de já estarmos na Quaresma, a conversa desenrolou-se também à volta das tradições religiosas próprias desta época. Assim sendo, as utentes relembraram duas tradições muito características da Quaresma e que embora já não sejam cumpridas à risca e na íntegra por grande parte da população, ainda hoje perduram. Estamos a falar dos contratos e do jejum. O jejum era cumprido durante todas as quartas-feira e as sextas–feira até à Páscoa, esta prática consistia em não comer nada durante a manhã até ao almoço e ao jantar só se podia comer metade da porção que era hábito comer, a carne era um alimento proibido nestes dias.

Relativamente aos contratos eram um compromisso feito entre duas pessoas, especialmente entre as crianças, tendo como prémio final um pacote de amêndoas. Assim, os respectivos participantes enlaçam os respectivos dedos mindinhos da mão direita e, marcando compasso, de cima para baixo, e de baixo para cima, dizem: “Contrato, contrato faremos, Sábado de Aleluia desmancharemos!” Dito isto os participantes combinam um sinal, que pode ser ajoelhar, olhar para o céu, bater palmas, etc. Este sinal, serve para que os envolvidos não se esqueçam dos contratos e assim quando se verem um ao outro têm que dar a ordem, e o outro tem que cumpri-la. Por exemplo diz-se: “Ajoelha-te!” e o outro tem que ajoelhar-se; no Sábado d’ Aleluia quem ver o colega primeiro grita: “Ajoelha-te e paga!” e o outro tem que pagar as amêndoas no dia de Páscoa porque perdeu.

Verificou-se que muitas avós ainda fazem os contratos com os netos, o que é bastante bom para que esta tradição não morra.
Todas concordaram que foi uma tarde de conversa bastante bem passada e muito divertida.

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Monchique, Marmelete, Portugal
Potenciando a efectivação de um acompanhamento do envelhecimento construtivo e activo, o Centro de Dia de Marmelete, consiste numa resposta social de apoio à população idosa da freguesia de Marmelete, incidindo a sua dinâmica institucional para colmatar as demais necessidades e/ou problemas de cariz sócio-demográfico. O Centro de Dia de Marmelete comporta as valências de Serviço de Apoio Domiciliário e Centro de Convívio. Conta com o apoio de 170 associados, entre os quais 16 encontram-se inseridos no Serviço de Apoio Domiciliário e 40 no Centro de Convívio.

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