Histórias de Vida - José Lourenço Pires


José Lourenço Pires nasceu em Marmelete e viveu sempre na freguesia, até ir para a tropa com 20 anos. Fez a recruta em Lagos e depois foi para Santa Margarida e entretanto foi para a Índia.
Frequentou a Escola Primária de Marmelete, onde estudou até à terceira classe, mas depois já adulto decidiu ir fazer o exame da quarta classe, habilitações com as quais se mantém até hoje.
Quando deixou a escola começou a trabalhar na agricultura e na construção civil, actividades que manteve até ser chamado para fazer a recruta do serviço militar.
Aos 21 anos foi para a Índia ao serviço do exército português, partiu do Cais de Alcântara, em Lisboa num navio que levava cerca de 2500 militares.
Após uma viagem de 15 dias o Sr. José juntamente com os outros 2500 soldados chegaram a Goa, na Índia, onde depois foram distribuídos por várias companhias, para diferentes locais. Esteve quatro meses em Goa, onde efectuou serviços de patrulha e de guarda a algumas prisões.
Passados quatro de meses da estada em Goa, surgiu a oportunidade de um pelotão de soldados portugueses ir para Timor, e o Sr. José Pires foi um dos muitos soldados que se voluntariou para ir cumprir o serviço em Timor.
Após uma viagem de navio que durou 15 dias chegaram a Timor, onde esteve 26 meses. Em Timor fazia serviço de patrulha e de guarda.
Na viagem de regresso a Portugal, no mar das Filipinas, o barco apanhou um grande tufão, perante esta tempestade os tripulantes passaram três dias sempre deitados no convés do barco e quase sem se alimentarem, só comiam um pouco de pão e um pouco de água.
Mas apesar deste percalço na viagem sobreviveram todos e lá atracaram então em Hong Kong, para abastecer e de seguida pararam em Singapura, onde o navio fez um carregamento de produtos que era para deixar na Índia, mas entretanto durante o percurso souberam que a Índia estava em guerra e assim fizeram o caminho de volta para Portugal, passando pelo Canal Suez.
Chegaram a Portugal decorridos 45 dias de viagem em alto mar.
O Sr. José esteve quatro anos ao serviço do exército português.
Durante o tempo todo que esteve fora de Portugal, aquilo que lhe custou mais foram as saudades que sentia dos familiares e amigos que deixou cá, e aquilo que mais lhe custou a adaptar-se foi a comida, diz que nunca comeu tanto arroz na sua vida, como quando esteve em Timor.
Quando veio para Portugal começou a trabalhar como servente de pedreiro e passados alguns anos passou a pedreiro, exercendo esta profissão até se reformar, o Sr. José foi autor de inúmeras casas, com uma arquitectura digna de registo.
 Para além destas aventuras todas do outro lado do mundo, que o Sr. José recorda com um misto de saudade, mas ao mesmo tempo de alegria e orgulho, ele é ainda um dos detentores de uma arte manual que já se vai perdendo. Das suas mãos de artesão saem magníficas colheres de pau, e outros utensílios de cozinha por ele fabricados com muita paciência e dedicação, que são verdadeiras obras de arte.
Hoje já reformado é assim que passa a maioria do seu tempo livre, para além de alguns trabalhos na horta, dedica grande parte do seu tempo a este ofício, dizendo que é algo que lhe dá muito prazer.  
Hoje com 73 anos só tem pena não ter visitado mais países e conhecer outras culturas diferentes da portuguesa, contudo considera-se um felizardo por ter estado nas terras do oriente, onde nunca teria oportunidade de ir se não fosse o serviço militar.
Também gostava muito de poder voltar a Timor ou à Índia, mas desta vez como visitante e para verificar quais as transformações pelas quais estes países passaram.
Questionado acerca da sua preferência em relação a estes países, o Sr. José não hesita e diz que Timor foi sem sombra de dúvida o local onde mais gostou de estar, talvez por ser onde esteve mais tempo e onde criou grandes laços de amizade, identificou-se bastante com os costumes dos timorenses, e diz até que quando se veio embora sentiu alguma pena de deixar o país ao qual se tinha afeiçoado tanto.
Das viagens, ficam inúmeras “estórias” para contar, e um orgulho enorme por ter estado nestes países, como é visível pela sua forma de relatar os acontecimentos entre amigos nas conversas de café.
Da nossa parte, em nome da direcção e da equipa técnica do Centro de Dia de Marmelete, um agradecimento enorme pela sua disponibilidade e por partilhar connosco um pouco das suas vivências e das suas memórias.

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Monchique, Marmelete, Portugal
Potenciando a efectivação de um acompanhamento do envelhecimento construtivo e activo, o Centro de Dia de Marmelete, consiste numa resposta social de apoio à população idosa da freguesia de Marmelete, incidindo a sua dinâmica institucional para colmatar as demais necessidades e/ou problemas de cariz sócio-demográfico. O Centro de Dia de Marmelete comporta as valências de Serviço de Apoio Domiciliário e Centro de Convívio. Conta com o apoio de 170 associados, entre os quais 16 encontram-se inseridos no Serviço de Apoio Domiciliário e 40 no Centro de Convívio.

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